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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Comme un roman

SPOILER FREE

Esse foi um livro indicado por um amigo meu, que está estudando francês e que lê o meu blog (imagino eu, pelo comentário que ele fez). Ele me disse que era um tipo de leitura que me agradaria. E ele acertou em cheio!

O livro já foi lançado em português também, com o título "Como um romance" (bem óbvio, não?), e trata de uma temática muito parecida com outro livro que já li esse ano, Como falar dos livros que não lemos. Só que o viés aqui é de como fomentar a leitura para quem não gosta de ler, ou tem preconceito, e faz uma crítica ferina à forma como a literatura é tratada pelo sistema de ensino tradicional (inclusive aqui no Brasil). Além disso, ele também briga com o "dogma" de que "é preciso ler" e menciona alguns direitos inalienáveis aos leitores.

Em certas partes o livro parece até uma espécie de auto-ajuda para os pais que querem estimular os seus filhos a ler, o que não deixa de ser interessante, com muitas pitadas de histórias verídicas interessantes de professores que atingiram esse objetivo.

Uma coisa que me tocou no meu processo de leitura é que eu pude me identificar com as idéias do autor, pois aquilo que ele sugere que pais façam, meu pai fez comigo. O que não deixa de ser curioso e engraçado, pois ele nunca foi um leitor ávido, mas eu acabei uma leitora compulsiva, provavelmente por culpa dele (tão bom botar a culpa nos outros, né?).

Além de toda a parte de auto-ajuda, o livro ainda analisa os direitos do leitor (a melhor parte do livro na minha opinião), e que faço questão de colocar aqui (não é spoiler, estão na contracapa do livro!):

- Le droit de ne pas lire - O direito de não ler. Simples e direto, não?
- Le droit de sauter des pages - O direito de pular páginas. Atire a primeira pedra quem nunca fez isso. Pensando bem, atire não, é um direito mesmo. Inegável. Inegociável.
- Le droit de ne pas finir un livre - O direito de não terminar um livro. Bom, depois do direito de pular páginas, não tem como não chegar nesse direito, né?
- Le droit de relire - O direito de reler.
- Le droit de lire n'importe quoi - O direito de ler qualquer coisa. Até bula de remédio? Por que não? Tem gosto pra tudo, até Paulo Coelho tem uma legião de fãs. Lembrando que gostar de algo não faz daquilo algo bom, nem desgostar faz ser ruim.
- Le droit au bovarysme (maladie textuellement transmissible) - O direito ao bovarismo (doença textualmente transmissível). Aqui é preciso explicar um pouco, ele remete ao romance Madame Bovary, de Flaubert, mais especificamente à inocência da personagem principal, que busca apenas satisfazer os seus sentidos/vontades. Em outras palavras, é aquele frisson adolescente pelo qual todos passamos, e que Crepúsculo exemplifica tão bem hoje. Em outras palavras, não cuspa no prato que comeu, todos passam por essa fase, com ou sem livros.
- Le droit de lire n'importe où - O direito de ler em qualquer lugar. Eu pessoalmente adoro ler no metrô. Acho que os chefes são os únicos que não concordam com esse direito. Mas eles não precisam saber de tudo, não é mesmo?
- Le droit de grappiller - O direito de ler "aleatoriamente". Se você gosta de abrir um livro em qualquer página e ler a primeira frase que saltar aos olhos, esse é o seu direito.- Le droit de lire à haute voix - O direito de ler em voz alta. Os contadores de histórias são quase uma prova viva desse direito. E tem algumas coisas que só ficam bem lidas em voz alta, como algumas poesias. Precisa mesmo explicar?
- Le droit de nous taire - O direito de nos calarmos. Ninguém é obrigado a falar sobre o que leu, o seu relacionamento com um livro é bastante íntimo, você só fala sobre ele se quiser, como a maluca aqui.


Nota 9 (porque apesar de ter me identificado, não gosto de auto-ajuda)

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