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sábado, 10 de março de 2012

O perfume


SPOILER FREE

Esse foi o primeiro livro de serial killer de março para o Desafio Literário... e como dizer? Precisei, logo depois de fechar o livro, sentar com o maridão e contar a história toda para ele, porque o choque foi grande demais e eu precisava compartilhar a minha sensação de horror com alguém (ele não leria mesmo o livro, então fiquei com a consciência tranquila por ter feito isso).

Aí que eu percebi o quanto o livro é bem escrito, porque ele RIU da história, de tão absurda que achou, enquanto eu tentava explicar para ele que não, que a história era horripilante e que eu estava em choque etc. Eis um bom escritor: aquele que te envolve de tal forma, te faz mergulhar de um jeito que não tem mais volta e você simplesmente vivencia o que lê. Tiro o meu chapéu para o Patrick Süskind.

Para quem curte serial killers e personalidades bizarras o livro é um prato cheio. Para quem curte belas descrições de cheiros (nunca imaginei que perfumes e cheiros pudessem ser tão bem descritos, me lembrou o que a Pixar conseguiu fazer visualmente com gostos em Ratatouille), também é um prato cheio. Para quem não curte livros pesados, fica a dica: mantenha distância.

Agora, só para deixar um gostinho, porque eu amei essa passagem (calma, não é spoiler, tá na primeira página do livro):

"Na época de que falamos, reinava nas cidades um fedor dificilmente concebível por nós, hoje. As ruas fediam a merda, os pátios fediam a mijo, as escadarias fediam a madeira podre e bosta de rato; as cozinhas, a couve estragada e gordura de ovelha; sem ventilação, salas fediam a poeira, mofo; os quartos, a lençóis sebosos, a úmidos colchões de penas, impregnados do odor azedo dos penicos. Das chaminés fedia o enxofre; dos curtumes, as lixívias corrosivas; dos matadouros, fedia o sangue coagulado. Os homens fediam a suor e a roupas não lavadas; da boca eles fediam a dentes estragados, dos estômagos fediam a cebola e, nos corpos, quando já não eram mais bem novos, a queijo velho, a leite azedo e a doenças infecciosas. Fediam os rios, fediam as praças, fediam as igrejas, fedia sob as pontes e dentro dos palácios. Fediam o camponês e o padre, o aprendiz e a mulher do mestre, fedia a nobreza toda, até o rei fedia como um animal de rapina, e a  rainha como uma cabra velha, tanto no verão quanto no inverno. Pois à ação desagregadora das bactérias, no século XVIII, não havia sido colocado ainda nenhum limite e, assim, não havia atividade humana, construtiva ou destrutiva, manifestação alguma de vida, a vicejar ou a fenecer, que não fosse acompanhada de fedor."

 Nota 9

5 comentários:

  1. Acho que ele vai adorar. É um dos melhores livros que já li, diz pra ele ler, pois eu já li umas três vezes. Já o filme.. não dei conta. Meia hora de filme, tudo esverdeado e . .. NARRADO!! Gaia gostou, voltei a tentar , mas não deu. Já o livro..uau!!!

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  2. Outra coisa, ja´ouviu o livro que te dei,Memoria do livro? reouvi agora e é tão legal que comprei o livro agora também. E acho que a autora trabalha com o tipo de tema que você curte, veja só esse,por exemplo, nove partes do desejo, geraldine brooks. Esse é não ficção.

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  3. Eu fiquei impactada com essa história também. Bem feitíssima! Adorei a parte da contação de histórias para o seu marido. Não deixe ser uma leitura, né? Bjs

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  4. Dê para o marido ler, que ele também vai sentir o medo que o livro incute no leitor!!

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    Respostas
    1. Medo mesmo confesso que não senti, eu já sabia o que o assassino queria... o que me deixou estupetada e me arrasou completamente foi a reação das pessoas! E, claro, as motivações loucas e doentias do assassino... achei o livro pesado por causa dessas coisas.

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