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segunda-feira, 18 de março de 2013

A Conferência dos Pássaros


SPOILER FREE

Escrito no século XII, pelo poeta sufi Farid Ud-Din Attar, esta é uma obra de leitura obrigatória para quem se interessa pela forma de pensamento sufi. Originalmente escrito em forma de poesia, o livro infelizmente só está acessível em prosa (a não ser que você saiba farsi), e conta a saga de diversos pássaros (de diversas espécies) liderados pela poupa (um tipo de pássaro mencionado na bíblia pelo o que entendi) em busca do Simorgh, que é um pássaro mítico persa. Isso tudo porque ao se reunirem os pássaros decidem que precisam de um rei, e o Simorgh é o escolhido após ser apresentado aos demais pássaros pela poupa como um pássaro perfeito.

Dessa forma, Attar se utiliza dessa fábula para retratar a busca do ser humano por Deus, utilizando-se das falas dos pássaros e dos seus questionamentos à poupa para falar de forma alegórica da busca do ser humano pela união com o divino, que é a essência da busca do sufi (ou do Buscador no Caminho, como eles gostam de dizer). A primeira parte do livro trata, portanto, da decisão dos pássaros de seguirem ou não o caminho do desenvolvimento espiritual, onde cada pássaro apresenta a sua dificuldade (humana, extremamente humana) em largar a sua vida diária para mergulhar numa viagem do espírito. Os questionamentos à poupa que se seguem, onde cada pássaro dá motivos para desistir da viagem, simbolizam as falhas do ser humano que o impedem de evoluir espiritualmente.

A segunda parte trata de descrições filosóficas das etapas dessa viagem, porque segundo a visão sufi, ninguém pode descrever a união com o divino ou o caminho para que essa união aconteça, cada um precisa ter a sua própria experiência. Portanto, as descrições aqui são bem vagas e as aves precisam passar por 7 vales: Talab (ânsia), Eshq (amor), Marifat (gnose), Istighnah (desapego), Tawhid (unidade de Deus), Hayrat (perplexidade) e, finalmente, Fuqur e Fana (abnegação e extinção).

E a terceira parte trata do final da viagem, quando os pássaros chegam ao seu destino e descobrem que eles são o próprio Simorgh, pois na visão Sufi não existe separação entre Deus e o universo (incluindo o ser humano), Ele é a totalidade da existência.

Enfim, o livro é muito interessante e levanta pontos extremamente pertinentes, o que torna a sua leitura muito rica e proveitosa, pois, seguindo a tradição árabe, A Conferência dos Pássaros é cheio de pequenas histórias usadas para ilustrar os argumentos mostrados. E é aqui que surge o único problema desse livro (na minha humilde opinião), pois muitas dessas histórias são usadas para mostrar como o Islamismo é a única religião verdadeira, e apesar de eu entender a escolha do autor por essas histórias (há todo um contexto cultural e histórico a ser levado em consideração) elas me irritaram muitíssimo, e acabaram por desviar a minha atenção da parte boa da escrita de Attar.

Então, esse é um livro interessante, mas que precisa ter alguns pontos solenemente ignorados para sua completa degustação.

Nota 9

Atualização:
Questionaram o título do livro, e na época eu não tinha encontrado na web uma imagem da capa da minha edição, mas agora encontrei, aqui:

2 comentários:

  1. Na verdade esse livro é o livro "a linguagem dos pássaros " e pode ser encontrado na editora atttar ou na edições dervish ( não me lembro qual das duas )

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    1. A edição que eu tenho se chama "a conferência dos pássaros", se em edições mais novas trocaram o título eu já não sei dizer.

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