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segunda-feira, 12 de junho de 2017

História do novo sobrenome


Na primavera de 1966, em um estado de grande agitação, Lila me confiou uma caixa de metal que continha oito cadernos. Disse que não podia mais guardá-los em casa, temia que o marido pudesse lê-los. Levei a caixa comigo sem fazer comentários, afora uma menção irônica ao excesso de barbante com que o atara. Naquela fase, nossas relações estavam péssimas, mas perecia que essa impressão era apenas minha. Ela, nas raras vezes em que nos víamos, não manifestava nenhum embaraço, era afetuosa, jamais deixava escapar uma palavra hostil.

SPOILER FREE

Na continuação de "A amiga genial", Elena Ferrante nos traz a juventude das duas amigas, Lenú e Lila. Nessa época Lila está casada e Lenú está avançando nos seus estudos rumo à faculdade, a primeira do bairro a chegar nesse ponto de sua educação.

A partir dessas duas perspectivas absolutamente distintas, a relação entre as amigas ganha novos contornos, ficando mais complexa. E novos acontecimentos envolvendo relações com rapazes trazem um colorido diferente para a história, diferenciado-se do primeiro livro.

Se o primeiro livro é um tanto lento por tratar de dramas e acontecimentos infantis, aqui a questão da sexualidade surge com ímpeto e, novamente, uma franqueza arrebatadora. Todo o questionamento do que é aceitável, ou não, do que é conversado abertamente ou não, de como é um relacionamento conjugal comum naquela época, a violência contra a mulher, e até mesmo a questão do prazer da mulher nos relacionamentos conjugais ou não, tudo isso é tratado de forma direta ou indireta na narrativa de Ferrante. E nesse ponto a escolha da autora por uma narradora mais velha que relembra o passado dá a ela toda uma possibilidade de análise e de destrinchar sentimentos que torna o tema ainda mais rico.

A história, que no fundo é muito triste e deprimente, ganha toda uma vivacidade e cores incríveis que tornam a leitura extremamente prazerosa. Digo isso de forma literária, pois o livro tem diversas passagens de violência bastante fortes. (fiquem avisados)

Virei fã da Elena Ferrante. Seu trabalho sensível é leitura obrigatória para ilustrar as questões femininas no século XX.

Nota 10.

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